sábado, 28 de dezembro de 2013
(Algumas) Memórias Cineclubistas Osasquenses
INFELIZMENTE AINDA HOJE é
muito comum constatar que pouco ou nada se teorizou sobre o Movimento Cineclubista
Osasquense, que por sinal é um movimento secular e planetário. Sim, pois a
sensação que se dá é que no imaginário osasquense praticamente só há espaço
para o Teatro, Musica,Artes Plásticas e
a Literatura por exemplo. Cineclubismo, Audiovisual ... nada!Mais essa lacuna
precisa ser preenchida já, pois afinal o já saudoso poeta e professor Décio
Pignatari filmou no começo dos anos 1960
na cidade (alguns trechos desse material foram utilizados no magnifico curta “
Das Ruinas à rexistência” de Carlos Adriano) e, igualmente o atual secretário
do Meio Ambiente de Osasco Carlos Marx (era cineclubista na época, e tornou-se
popular através do Cineclube Sentinela em Presidente Altino) juntamente com o
hoje professor e jornalista José Edward Janczukowicz (que era tratado
carinhosamente de Polanski osasquense) trouxeram em 1969 filmes como “O Dragão da
Maldade contra o Santo Guerreiro” de Glauber Rocha em formato 16 MM para
exibição lá no Cine Yara (hoje Supermercado Solar), na Vila Yara. Diversas outras experiências cineclubistas
surgiram a seguir; notadamente entre 1979 e 1993 quando a cidade viveu um
período muito rico com a subsede do sindicato dos Bancários de SP à frente, e a
Prefeitura (a secretária de Cultura era
Ana de Holanda; governo Humberto Parro/PMDB) chegou inclusive a realizar o “1º
Curso de Formação Cineclubista” (em 1984) através da saudosa cineasta Hilda
Machado e em parceria com entidades populares, e sindicatos. Curso este que participei e dai em diante me
tornei cineclubista, documentarista (em 1989 fiz o documentário” Primeiro de
Maio Não é Primeiro de Abril”) e cinéfilo. Além do cineclube dos Bancários, já
estavam organizados (ou se organizando) o Glauber Rocha (Ceneart), Nelson
Pereira dos Santos (Colegio Haya), EEPSG
José Maria Rodrigues Leite (Campesina), EEPG Luis Lustosa da Silva (Baroneza) ,
EEPSG Independência, Cineclube Mazzaropi (Novo Osasco) e Vila dos Artistas.Em 1993 fundei juntamente
com o arquiteto Pietro Mignozzetti e a artista plástica Mercia Fasanaro, o
Cineclube Leon Hirszman na antiga sede do sindicato dos Comerciários de Osasco
na rua Pedro Viel. Enquanto que o fotógrafo Fiori Orlandi fundava o Cineclube
Leonardo da Vinci (Cursinho Anglo).Outras tantas atitudes (ou atividades) cineclubistas foram tomadas até 2005; quando durante o primeiro governo Emidio proliferam-se diversos cineclubes, sobretudo
graças aos Pontos de Cultura do Ministério da Cultura: o Idade de Ouro na UAPO
(União dos Aposentados e Pensionistas de Osasco), Cineclube Fernão Dias, Instituto Zequinha Barreto, Associação Mães do
Veloso, e o Cineclube Alto do Farol que fundei juntamente com João Lucio
Martinho, o Joãozinho, entre outros. Chegamos inclusive a ganhar capa do jornal
“O Estado de S. Paulo”. E vale dizer novamente que Carlos Marx mesmo estando no Meio Ambiente
deu um decisivo apoio; além é claro de Cacá Mendes e João Subires da secretaria
de Cultura devidamente comandados por Roque Aparecido da Silva.Atualmente um dos
principais cineclubes da cidade é o Cine Debate que promove sessões mensais no
teatro Grande Otelo e é dirigido por Risomar Fasanaro, Alenice Abrantes, Rocilda Cruz, Luana Bezerra, Orlando Silva, João Subires, Vera Rocha, Diogo Gomes dos Santos e por mim (se é que não
esteja esquecendo de mais alguém). Numa
parceria com o CECISP – Centro Cineclubista de S. Paulo, do qual sou um dos
fundadores e diretor, e a Prefeitura de Osasco.Claro que tenho consciência
da ligeireza destas linhas, porém pode ser uma inicial manifestação de um
segmento importantíssimo que por razões obvias não pode ser ignorado.
Feliz Ano Novo! 28/12/2013.Dia mundial do Cinema.
domingo, 15 de dezembro de 2013
R. Rossellini na TV Cultura
POR OCASIÃO DA EXIBIÇÃO de um documentário sobre o um dos mestres do cinema, Roberto
Rossellini, na TV Cultura quinta feira próxima (19/12) as 22 hs, penso ser
oportuno republicar texto abaixo que fiz em 2007.
Mesmo um pouco longo vale uma conferida; valendo assim como
um aperitivo para a exibição do filme...
Trinta Anos Sem Roberto Rossellini
“Evidentemente, só fui entender muito mais tarde o que
significava o Neo-realismo italiano, que era, na verdade, um alargamento das
possibilidades do discurso cinematográfico. No momento em que Rossellini tira a
câmera do estúdio e mostra a vida na rua, ele redefine não somente uma estética
cinematográfica, mas também uma ética cinematográfica.”
Walter Lima Junior –
Cineasta
Foi a partir da reportagem “Texto inédito de Rossellini
previa conflito entre Ocidente e Islã”, publicada no site do “Jornal do Brasil”
em 20/04/07 (que segue em anexo), que despertei para para a urgência de
refletir sobre a importância do legado deixado pelo cineasta italiano Roberto
Rossellini. Que nasceu em Roma em 8/5/1906 e que justamente em 3 de junho
próximo completará trinta anos de sua morte também em Roma. A reportagem para
quem ainda não o conhece é uma descoberta incrível, já para os iniciados (ou
cinéfilos de carteirinha) é um excelente aperitivo. É que escrever em 1976
sobre as relações Ocidente e Islã com o devido respeito, ensinando-nos à
compreensão e tolerância mútua, e principalmente colocá-la em prática, é algo
muito importante. Ele profetizou por assim dizer o 11 de setembro de 2001! E
mais, ao longo de sua trajetória foi e será uma obrigatória e verdadeira
referência não só para os interessados por cinema ou cultura, mas para todos
aqueles que almejam um mundo ético, digno e solidário. Palavras muitíssimo
caras nos dias atuais.
Segundo o jornalista Luiz Zanin Oricchio do “O Estado de S.
Paulo” caderno “Cultura/Caderno 2” de 2/11/2003, pág. D-1, “... Mais de uma
vez, em entrevistas (inclusive na mais célebre de todas, dada a Eric Rohmer e a
François Truffaut, para a Cahiers du
Cinema, afirmou que desconhecia o significado exato do termo neo-realismo.
Dizia até mesmo que não era cineasta, apenas um homem que se sentia em dever
moral diante dos seus semelhantes e procurava meios expressivos adequados para
cumprir com sua obrigação. Cinema ou TV, ou os dois juntos, tudo dava na
mesma...”.
É importante (re) lembrar que ele é considerado o “pai do
Neo-Realismo italiano”, e por extensão do cinema moderno. Jean-Luc Godard e
François Truffaut foram super influenciados por Rossellini , surgindo a Nouvelle
Vague francesa. Certa ocasião Glauber Rocha também admitiu que o Cinema Novo brasileiro era devedor dele.
Rossellini começou a interessar-se por cinema por volta do
30 anos, como montador, roteirista e realizador de curtas-metragens. Sua
estréia nos longas foi em 1941 com O Navio-hospital. Pode-se afirmar que sua trajetória artística decolou de vez a partir da chamada “trilogia da guerra”: Roma
– Cidade Aberta (1945), Paisá (1946) e Alemanha Ano Zero (1948). Na qual
ele praticamente documentou a 2ª Guerra Mundial na Europa, ainda que fossem ficcionais.
Já com Stromboli (1950), Europa 51 (1952)
e Viagem à Itália (1953), estamos diante da “trilogia da solidão”. Nos três
a atriz Ingrid Bergman (Estocolmo, 29/08/1915 – Londres, 29/08/1982) de Casablanca (entre muitos outros), está magistral. E que teve um polêmico casamento com Rossellini; nascendo daí Roberto e as gêmeas Isotta Ingrid e a atriz Isabella Rossellini.
Não se deve esquecer também, que Anna Magnani (1908-1973)
imortalizou sua carreira no papel de Pina em Roma – Cidade Aberta. E, igualmente anotar, que Federico Fellini (1920-1994) antes de realizar obras como A
Doce Vida (1960) e 8/12 (1963), foi um dos principais colaboradores de
Rossellini.
Deixo aqui esta pequena recordação de Roberto Rossellini. Na
certeza que ela motivará outros tantos interesses e necessidades. Estão
disponíveis para locação em DVD: Roma – Cidade Aberta (1945), Paisá (1946), Alemanha, Ano Zero (1948), Stromboli (1949), Francisco, Arauto de Deus (1950), Viagem à Itália (1954), Nós as Mulheres (1953), De Crápula à Herói (1959) e Santo Agostinho (1972).
Rui de Souza –
25/04/2007
Texto inédito de Rossellini previa conflito entre ocidente e Islã
Agência ANSA ROMA –
A perspicácia do pensamento e da obra de Roberto
Rossellini encontra uma nova comprovação com a publicação de “Islam”, texto
inédito de um projeto televisivo que o diretor escreveu em 1976 e acabou por
não ser filmado.
O manuscrito, dividido em setenta pastas, foi reencontrado
por Renzo Rossellini, filho e colaborador muito próximo de Roberto. A ele
também se deve a organização do curto livro publicado na Itália pela editora
Donzelli (163 páginas, 13,50 euros) que contém a filmografia completa do
diretor, com fichas exaustivas sobre cada obra.
“Islam” se insere no projeto de filmes televisivos histórico-didáticos
sobre a história da humanidade, uma espécie de enciclopédia imagética que
produziu também obras-primas singulares, como “La Presa del Potere di Luigi
XIV” e Il Messia”.
Para Rossellini (1906-1977), que já desde a segunda metade
dos anos 1960 tinha rompido com indústria cinematográfica, a divulgação
televisiva representava o futuro do cinema e – de um ponto de vista pessoal –
um novo campo a ser explorado.
No texto inédito, surpreende o modo original de enfrentar a
questão do istã, com reflexões que hoje parecem ter extrema atualidade. Dizem
as primeiríssimas linhas: “Agora que o mundo está ainda mais dilacerado por
novas incompreensões e por acontecimentos inusitados, torna-se urgente fazer
alguma coisa. Uma nova fratura muito profunda foi criada entre o mundo
ocidental, orgulhoso de seu suposto pragmatismo, e o mundo muçulmano, que,
finalmente despertado, tem a coragem de se recobrar”.
Muitos anos antes do fatídico 11 de setembro de 2001,
Rossellini parece intuir o perigo de um choque de civilizações e postula
necessidade de conhecer as riquíssimas raízes da cultura árabe e da relação
profunda que essas raízes têm com o Ocidente.
Um raciocínio cristalino, que revela não apenas a erudição e
a postura de pesquisador, mas também a incrível capacidade de intuição do
mestre. “Qualquer coisa poderá acontecer”, diz a obra. Mas para nos odiarmos
bem ou nos destruirmos bem, deveremos em todo caso conhecer-nos bem.
O texto foi escrito à mão, como todos os outros do mesmo
gênero, em blocos pautados amarelos, que Rossellini usava sempre para o seu
trabalho.
Comumente, depois de ter escrito ele fotocopiava as páginas
e as dava ao filho, para que ele lesse e fizesse as suas observações. Mas,
quando terminou de escrever “Islam”, segundo conta Renzo, ele não fez cópias e
pediu a ele lesse rápido, diante de si, as páginas recém-prenchidas.
- Imediatamente comentei – conta Renzo: “Mas como, os países
islâmicos são riquíssimos, têm petróleo e podem colocar de joelhos a economia
do planeta!”. Rossellini então respondeu num ímpeto ao filho: “Mas esse é o
problema: para apoderar-se dessas riquezas criaremos pretextos, usaremos as
armas do racismo, como foi feito contra os judeus, e pior, poderemos criar um
novo holocausto, e desta vez as vítimas serão o islã e os mulçumanos”.
Reportagem publicada
no site do “Jornal do Brasil” em 20/04/07
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
LISTINHA DE PRIORIDADES...
EIS AQUI ALGUNS filmes que estão na minha listinha de prioridades para assistir neste final de ano – quer dizer se não saírem de cartaz antes...
Azul É a Cor Mais Quente, Frances Ha, Blue Jamine, Mataram
meu irmão, Morro dos Prazeres, Tatuagem e Lira Paulistana e a Vanguarda
Paulista.
Bem, desconta-se ai a Retrospectiva do CineSesc do Cinema brasileiro que começa hoje...
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