domingo, 15 de dezembro de 2013
R. Rossellini na TV Cultura
POR OCASIÃO DA EXIBIÇÃO de um documentário sobre o um dos mestres do cinema, Roberto
Rossellini, na TV Cultura quinta feira próxima (19/12) as 22 hs, penso ser
oportuno republicar texto abaixo que fiz em 2007.
Mesmo um pouco longo vale uma conferida; valendo assim como
um aperitivo para a exibição do filme...
Trinta Anos Sem Roberto Rossellini
“Evidentemente, só fui entender muito mais tarde o que
significava o Neo-realismo italiano, que era, na verdade, um alargamento das
possibilidades do discurso cinematográfico. No momento em que Rossellini tira a
câmera do estúdio e mostra a vida na rua, ele redefine não somente uma estética
cinematográfica, mas também uma ética cinematográfica.”
Walter Lima Junior –
Cineasta
Foi a partir da reportagem “Texto inédito de Rossellini
previa conflito entre Ocidente e Islã”, publicada no site do “Jornal do Brasil”
em 20/04/07 (que segue em anexo), que despertei para para a urgência de
refletir sobre a importância do legado deixado pelo cineasta italiano Roberto
Rossellini. Que nasceu em Roma em 8/5/1906 e que justamente em 3 de junho
próximo completará trinta anos de sua morte também em Roma. A reportagem para
quem ainda não o conhece é uma descoberta incrível, já para os iniciados (ou
cinéfilos de carteirinha) é um excelente aperitivo. É que escrever em 1976
sobre as relações Ocidente e Islã com o devido respeito, ensinando-nos à
compreensão e tolerância mútua, e principalmente colocá-la em prática, é algo
muito importante. Ele profetizou por assim dizer o 11 de setembro de 2001! E
mais, ao longo de sua trajetória foi e será uma obrigatória e verdadeira
referência não só para os interessados por cinema ou cultura, mas para todos
aqueles que almejam um mundo ético, digno e solidário. Palavras muitíssimo
caras nos dias atuais.
Segundo o jornalista Luiz Zanin Oricchio do “O Estado de S.
Paulo” caderno “Cultura/Caderno 2” de 2/11/2003, pág. D-1, “... Mais de uma
vez, em entrevistas (inclusive na mais célebre de todas, dada a Eric Rohmer e a
François Truffaut, para a Cahiers du
Cinema, afirmou que desconhecia o significado exato do termo neo-realismo.
Dizia até mesmo que não era cineasta, apenas um homem que se sentia em dever
moral diante dos seus semelhantes e procurava meios expressivos adequados para
cumprir com sua obrigação. Cinema ou TV, ou os dois juntos, tudo dava na
mesma...”.
É importante (re) lembrar que ele é considerado o “pai do
Neo-Realismo italiano”, e por extensão do cinema moderno. Jean-Luc Godard e
François Truffaut foram super influenciados por Rossellini , surgindo a Nouvelle
Vague francesa. Certa ocasião Glauber Rocha também admitiu que o Cinema Novo brasileiro era devedor dele.
Rossellini começou a interessar-se por cinema por volta do
30 anos, como montador, roteirista e realizador de curtas-metragens. Sua
estréia nos longas foi em 1941 com O Navio-hospital. Pode-se afirmar que sua trajetória artística decolou de vez a partir da chamada “trilogia da guerra”: Roma
– Cidade Aberta (1945), Paisá (1946) e Alemanha Ano Zero (1948). Na qual
ele praticamente documentou a 2ª Guerra Mundial na Europa, ainda que fossem ficcionais.
Já com Stromboli (1950), Europa 51 (1952)
e Viagem à Itália (1953), estamos diante da “trilogia da solidão”. Nos três
a atriz Ingrid Bergman (Estocolmo, 29/08/1915 – Londres, 29/08/1982) de Casablanca (entre muitos outros), está magistral. E que teve um polêmico casamento com Rossellini; nascendo daí Roberto e as gêmeas Isotta Ingrid e a atriz Isabella Rossellini.
Não se deve esquecer também, que Anna Magnani (1908-1973)
imortalizou sua carreira no papel de Pina em Roma – Cidade Aberta. E, igualmente anotar, que Federico Fellini (1920-1994) antes de realizar obras como A
Doce Vida (1960) e 8/12 (1963), foi um dos principais colaboradores de
Rossellini.
Deixo aqui esta pequena recordação de Roberto Rossellini. Na
certeza que ela motivará outros tantos interesses e necessidades. Estão
disponíveis para locação em DVD: Roma – Cidade Aberta (1945), Paisá (1946), Alemanha, Ano Zero (1948), Stromboli (1949), Francisco, Arauto de Deus (1950), Viagem à Itália (1954), Nós as Mulheres (1953), De Crápula à Herói (1959) e Santo Agostinho (1972).
Rui de Souza –
25/04/2007
Texto inédito de Rossellini previa conflito entre ocidente e Islã
Agência ANSA ROMA –
A perspicácia do pensamento e da obra de Roberto
Rossellini encontra uma nova comprovação com a publicação de “Islam”, texto
inédito de um projeto televisivo que o diretor escreveu em 1976 e acabou por
não ser filmado.
O manuscrito, dividido em setenta pastas, foi reencontrado
por Renzo Rossellini, filho e colaborador muito próximo de Roberto. A ele
também se deve a organização do curto livro publicado na Itália pela editora
Donzelli (163 páginas, 13,50 euros) que contém a filmografia completa do
diretor, com fichas exaustivas sobre cada obra.
“Islam” se insere no projeto de filmes televisivos histórico-didáticos
sobre a história da humanidade, uma espécie de enciclopédia imagética que
produziu também obras-primas singulares, como “La Presa del Potere di Luigi
XIV” e Il Messia”.
Para Rossellini (1906-1977), que já desde a segunda metade
dos anos 1960 tinha rompido com indústria cinematográfica, a divulgação
televisiva representava o futuro do cinema e – de um ponto de vista pessoal –
um novo campo a ser explorado.
No texto inédito, surpreende o modo original de enfrentar a
questão do istã, com reflexões que hoje parecem ter extrema atualidade. Dizem
as primeiríssimas linhas: “Agora que o mundo está ainda mais dilacerado por
novas incompreensões e por acontecimentos inusitados, torna-se urgente fazer
alguma coisa. Uma nova fratura muito profunda foi criada entre o mundo
ocidental, orgulhoso de seu suposto pragmatismo, e o mundo muçulmano, que,
finalmente despertado, tem a coragem de se recobrar”.
Muitos anos antes do fatídico 11 de setembro de 2001,
Rossellini parece intuir o perigo de um choque de civilizações e postula
necessidade de conhecer as riquíssimas raízes da cultura árabe e da relação
profunda que essas raízes têm com o Ocidente.
Um raciocínio cristalino, que revela não apenas a erudição e
a postura de pesquisador, mas também a incrível capacidade de intuição do
mestre. “Qualquer coisa poderá acontecer”, diz a obra. Mas para nos odiarmos
bem ou nos destruirmos bem, deveremos em todo caso conhecer-nos bem.
O texto foi escrito à mão, como todos os outros do mesmo
gênero, em blocos pautados amarelos, que Rossellini usava sempre para o seu
trabalho.
Comumente, depois de ter escrito ele fotocopiava as páginas
e as dava ao filho, para que ele lesse e fizesse as suas observações. Mas,
quando terminou de escrever “Islam”, segundo conta Renzo, ele não fez cópias e
pediu a ele lesse rápido, diante de si, as páginas recém-prenchidas.
- Imediatamente comentei – conta Renzo: “Mas como, os países
islâmicos são riquíssimos, têm petróleo e podem colocar de joelhos a economia
do planeta!”. Rossellini então respondeu num ímpeto ao filho: “Mas esse é o
problema: para apoderar-se dessas riquezas criaremos pretextos, usaremos as
armas do racismo, como foi feito contra os judeus, e pior, poderemos criar um
novo holocausto, e desta vez as vítimas serão o islã e os mulçumanos”.
Reportagem publicada
no site do “Jornal do Brasil” em 20/04/07
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S/ minha autoriz. invadiram esse e outros posts meus. Tomara que não volte a ocorrer.
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