domingo, 9 de novembro de 2014
CINECLUBANDO UMA VEZ MAIS
MESMO CIENTE QUE ESTE BLOG deixa muito a desejar principalmente quanto a sua revisão e/ou edição. Resolvo publicar uma post um tanto quanto desajeitado (ou seja longo, etc.) m as que certamente será mais uma msg. numa garrafa neste oceano - bem, no caso "todos sabem como me retornar".
ENTÃO: RESERVE UM TEMPINHO E (RE) CONHEÇA UM POUCO MAIS DE NOSSA LUTA CINECLUBISTA - MESMO SABENDO QUE A MEMÓRIA EM ALGUNS MOMENTOS PODE TER SIDO IMPRECISA, AFIRMO QUE SUA ESSÊNCIA ESTÁ INTACTA. E POR FIM QUE TUDO ISTO SIRVA DE LIÇÃO OU CONTRIBUIÇÃO PARA NOVAS INICIATIVAS CINECLUBISTAS COM OU SEM O APOIO PUBLICO!!!
LEIA. AJA!
Cineclube Leon Hirszman: Um bom momento vivido em Osasco! VAMOS RETOMAR?
“Comerciários já desfrutam da nova sede do Secor no centro de Osasco” após ler esta reportagem ilustrada com foto do presidente do Secor (Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região), José Pereira da Silva Neto sendo cumprimentado pelo prefeito de Osasco, Emidio de Souza, no semanário osasquense, “Página Zero” de 19/06/09, imediatamente me veio à mente que naquela cerimônia inaugural da nova sede do sindicato (Rua Antonio B. Coutinho, 118), mesmo que muito modestamente, havia uma contribuição nossa...
Sim, refiro-me à fundação do Cineclube Leon Hirszman (CLH) na então sede do sindicato (Rua Pedro Viel, 56), exatamente em 22 de maio de 1993, um sábado às 19h... Explico: como houve uma confusão por parte da direção do sindicato ou de funcionários na entrega das chaves para abri-lo, horas antes da sessão inaugural, meio como um anjo (ou totalmente?!?) Mercia Fasanaro artista plástica e tudo mais, abriu-nos as portas de sua casa que fica (va) há quinhentos metros mais ou menos daquela sede, no centro de Osasco. E a programação de estréia foi um “Painel de filmes de curtas metragens”: O escurinho do cinema de Nelson Nadotti; Esconde-esconde de Eliana Fonseca; Trancado (por dentro) de Artur Fontes;Obscenidades de Roberto Henkin e Passageiros de Carlos Gerbase; em 16mm. O público foi uma turminha que não lembro quem e nem quantos eram, mas certamente uma hora surgirão relatos daquelas testemunhas...
E penso que rememorar o que for possível daquela experiência agora, poderá, quem sabe, servir de reflexões outras, pessoal ou coletivamente – aos verdadeiros interessados é óbvio. E por quê? Ora, porque sinto na pele e no coração (!) o quanto é difícil cultivar, preservar, enfim, todo um trabalho de militância cultural realizada não só por mim, mas por todos aqueles que não se conformam com a apatia, a passividade, a servidão e outros sentimentos ou estados d’alma do nosso povo (com perdão de certo pedantismo). Povo não só dos iniciados na cultura cinematográfica ou cineclubista, mas sim “todo mundo” – inclua-se aí, por exemplo, aquela pessoa que compra gato por lebre ao ir ao cinema ou mesmo ir numa locadora alugar um DVD, está certo? Que no caso do movimento cineclubista sempre foi respeitada, pois foi (é) afinal um local de tradição democrática e fraterna; quando ainda não havia PROCON (por exemplo) ninguém era enganado quanto à programação e/ou exibição de um filme, e mais: sacrificava-se tudo e todos em razão da pequena aventura/atrevimento de alguém sair de casa e ir se divertir, se informar – e nem havia essa coisa de pipocolândia (pipoca mais refrigerante). E esse (ou este?) foi o caso daquele cineclube. Que sobreviveu por exatos seis meses à base de um projetor 16 mm emprestado da hoje secretária de Gênero e Raça de Osasco, Sônia Rainho, com sessões quinzenais, de basicamente curtas metragens brasileiros emprestados do Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, e com média de público de mais de 40 pessoas; inclusive no período outono/inverno de 93, quando a tendência é das pessoas ficarem em casa por causa do frio.
Era um acontecimento na cidade: a imprensa (os jornais “O Diário de Osasco” e o extinto “Primeiro Hora” ambos de Osasco, e o “Página Zero” que ainda era sediado em Carapicuíba) dava o devido destaque nos seus cadernos de cultura; em bares da época como o Taijasi os filmes eram discutidos como o curta Tantas estrelas por ai... de Tadeu Knudsen no qual Rita Lee faz o papel de Raul Seixas numa história incrivelmente divertida e verdadeira, ou ainda o questionamento que me fizeram por colocar no folheto de divulgação do CLH, que Leon Hirszman era o “autor de ‘Eles Não Usam Black-Tie’”, quando na verdade a peça teatral de autoria de Gianfrancesco Guarnieri, foi dirigida no cinema por Leon (registre-se aqui uma curiosidade: Ricardo Dias, ator e jornalista e a atriz Mercedes Souza, ambos osasquenses, estão no filme); enfim o almejado espírito critico estava sendo praticado...
É preciso relatar também sobre a programação que, em duas outras ocasiões a presença de público (espontâneo ou não) foi formidável. A primeira ocorreu com exibição do vídeo “Brasil: Muito Além do Cidadão Kane” em 3 de julho de 93. Trata-se de um documentário produzido pela TV inglesa, Channel 4 e dirigido por Simon Hartog, que mostra o quase monopólio que a Rede Globo exerce na comunicação brasileira. Como havia sido vetado no MIS, pelo então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho, a repercussão do caso foi muito grande, despertando um igual interesse pelas comunidades, artísticas e culturais. Daí foi um pretexto para promovermos “uma sessão clandestina” – a exemplo de outras instituições – com mais de duzentas pessoas, seguida do debate“Democracia e Meios de Comunicação”, com Ligia de Paula, então presidente do Sindicato dos Artistas de São Paulo; Antonio Roberto Espinosa, diretor do “Primeira Hora”; e G. Palma, que era editor de “O Diário de Osasco”. Tudo amplamente noticiado e fotografado.
Já a Sessão do Cineclube para os alunos do Colégio Estadual Liberatti conforme anunciava o convite, também foi muito importante, pois mais de cem alunos assistiram ao filme “Getulio Vargas” dirigido por Ana Carolina, em 26 de agosto de 1993, e a seguir foi realizada teve uma palestra/aula de história com o nosso parceiro Roberto Trapp.
É partindo de pelo menos três históricos mestres, Risomar Fasanaro (Literatura), do saudoso Inácio Gurgel (Teatro) e Diogo Gomes dos Santos (Cineclubismo) - os dois primeiros com atividades em Osasco - que anseio aqui fazer a “lição de casa”: eles merecem a lembrança da importante influência que direta ou indiretamente, tiveram nisso tudo; ou seja o caldo cultural constituído desde aqueles anos de 1960 – para citar apenas um passado recente...-, Osasco já teve memoráveis festivais musicais e os reconhecidos nacionalmente teatros Núcleo Expressão e Vila dos Artistas (que por sinal abrigou também... um cineclube! Entre outras atividades expressivas. Em outra ocasião elas devem também ser recuperadas. E a preservação da memória deve ser praticada!
Já Diogo, que há mais de trinta anos lidera uma das parcelas do movimento cineclubista brasileiro, atuou (atua) intelectualmente na verdade em praticamente todo o processo do CLH – para não dizer nos meus vinte e cinco anos de cineclubismo, que agora se comemora; outra fundamental personalidade foi a saudosa Hilda Machado (1952-2007), cineasta, professora, cineclubista, escritora carioca que em 1984 comandou na cidade uma oficina cineclubista através da prefeitura, tendo ainda como auxiliares João Subires, Edson Soares, que tb. já nos deixou, etc.
Vale afirmar igualmente a seguinte declaração de Adhemar Oliveira (diretor do Espaço Itaú de Cinema, egresso do movimento cineclubista) em meados dos anos 90 “... Não podemos simplesmente deixar deteriorar atividades culturais que cumpriram um papel importante em determinado momento histórico, nas prateleiras. Um olhar renovado, e executado no presente/futuro é imprescindível...”O sentido de suas palavras foram estas, e numa época em que os governos (municipais, estaduais e federal) através de suas secretarias de cultura parecem serem substituídas intrinsecamente, por organismos da iniciativa privada, bens culturais viraram produtos culturais, há de se ficar atento! Nessa linha, o gabinete do então vereador Emidio de Souza (PT) serviu como nossa base administrativa (escritório), graças à intervenção direta de Roberto Trapp que além de chefe de gabinete era professor de história. Pode-se afirmar que a comissão provisória era composta por mim, Pietro Mignozzetti renomado arquiteto osasquense, Trapp e Gilmar (?) que militava na Convergência Socialista, hoje PSTU, e pela diretoria do sindicato: Neto, Bira, Sr. Cardoso e Sr.Garcia .
Deve-se a Jorge Mariano o crédito pela identidade visual e gráfica do CLH, conforme está documentado. E ao sindicato, a cessão gratuita do salão, mais fornecimento de Água, Luz, e a segurança garantida por um eficiente vigilante que me foge o nome agora.
Em certa ocasião foi delegado a mim a missão de buscar apoio financeiro ou material no sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (nossas únicas fontes de renda era uma “taxa de manutenção” em valores de hoje uns R$ 3,00; na sessão de 9 de outubro um pequeno patrocínio da então Pizzaria Caro Mio cujo responsáveis eram Xisto e Aprígio que funcionava lá perto, e da Drogaria Garota aberta até hoje no KM 18 cujos responsáveis ainda são João e Raul; nossa gratidão a eles! e... nosso bolso mesmo.) Mas ao final de uma cansativa reunião eles foram enfáticos: só poderiam estabelecer algum tipo de convênio ou parceria com sindicatos da CUT. O que naquela época ainda não era o caso do Secor; e ficamos a ver navios...
Talvez o principal erro nosso tenha sido o de não ter constituído uma pessoa jurídica, que ele existiu de fato, e poderia ter dado, portanto vôos maiores: uma sede própria por exemplo. Repito, talvez, pois que houve pelo menos uma atitude cineclubista, uma luta cultural com alma, não há dúvidas!
É importante deixar claro que este texto não se propõe a ser saudosista, mas sim um registro de um fato histórico vivido em Osasco. Claro, tb. um profundo sinal de respeito e gratidão aos companheiros do Secor, devidamente liderados por seu presidente, José Pereira Neto ,Sr. Cardoso, Bira, Sr. Garcia; mais: Mercia Fasanaro, Diogo Gomes dos Santos, Pietro Mignozzetti, Emidio de Souza, Jorge Mariano e Nete, Roberto Trapp, Luiz Gama, imprensa da cidade, Familia de Leon Hirszman, Gilmar, Pizzaria Caro Mio, Drogaria Garota, Aprigio Lima, Victor Arfinengo, e minha mãe Ivone Andrade de Souza. PELO MENOS. E como já disse, passados dezesseis anos, não pode ser esquecido – a exemplo de tantas outras iniciativas artísticas e culturais – ao se querer agir no presente e no futuro. E espero que seja recebido como um estímulo a mais para novos relatos ou revelações, de quem viveu (vive) no universo cineclubista. Pois afinal, não há informações saborosas que inexplicavelmente ainda não vieram à tona? Claro, refiro-me há pelo menos da redemocratização do país para cá.
Por fim, como se não bastasse à identificação muito forte que tive com o cinema de Leon, lá em 1982 quando da exibição nos cinemas do já citado “Eles Não Usam Black-Tie”, um motivo decisivo para criação do CLH foi a “Seleção Comemorativa do 2º Aniversário da Sala Cinemateca” de 20 de fevereiro a 20 de Março de 1991, na Fradique Coutinho em Pinheiros, quando foi exibido entre outros filmes, uma mostra Leon Hirszman e como “prato principal” a estréia de “ABC DA GREVE” (1979/90), na qual estive com Luis Gama um companheiro do sindicato dos bancários e cinéfilo de carteirinha. Na volta para casa começamos a “viajar” na possibilidade de criarmos um cineclube homenageando ele, que começou também como cineclubista – devidamente extasiados pelo que acabávamos de ver... – e o resto é história.
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