PASSAPORTE
PARA OSASCO
Documentário de Rui de Souza, 90 minutos.
Produção do Centro Cineclubista de São Paulo,
Cineclube Alto do Farol (Osasco-SP) e Cineclube Kinopheria (Itaquera-SP)
Documentário de Rui de Souza, 90 minutos.
Produção do Centro Cineclubista de São Paulo,
Cineclube Alto do Farol (Osasco-SP) e Cineclube Kinopheria (Itaquera-SP)
Assisti, ontem em DVD, ao documentário de
longa-metragem “Passaporte para Osasco”, dirigido por Rui de Souza. O
realizador, que contou com o apoio da Comissão Municipal da Verdade (do
município paulista), é claro em seus propósitos: “Este
filme é fruto de anseio de vários artistas, intelectuais e operários. Aborda a ‘geração 1968’ na cidade. Notadamente a greve de Osasco de julho daquele ano. É também uma singela homenagem a José Ibrahin (1947-2013 ) e seus amigos/companheiros“.
E é isto que ele faz, apoiado em dezena de depoimentos de militantes políticos, protagonistas da Greve de Osasco (1968). Inclusive e, principalmente, o de José Ibrahin, morto há dois anos. Como o filme foi realizado ao longo de muitos anos, Rui e seu fotógrafo João Luiz de B. Neto foram gravando testemunhos. Os melhores são os de Antonio Roberto Spinosa e Roque Aparecido, pois temperados com humor. Ibrahin também têm muito o que dizer, embora o faça sem a pulsão de vida que deve ter marcado sua agitada juventude. Completam a longa narrativa (que por fixar-se praticamente só no recurso do depoimento, às vezes cansa) os testemunhos de duas mulheres — Risiomar Fasonaro e Helena Pignatari Werner, esta, professora e autora de livro sobre as greves operárias de Osasco) — José Groff, João Joaquim Silva, Inácio Pereira Gurgel… Raras imagens (dos corpos de Lamarca e Zequinha mortos, de fotos e manchetes de jornal) tentam (mas são insuficientes) quebrar a repetição de testemunhos dados em super-close. Quando o filme começa, nos animamos. Um jovem Ibrahin aparece em uma loja masculina, na França, falando francês fluente com o rapaz que o atende. Ele prova ternos, pois, anistiado, regressará ao Brasil (1979). O sindicalista dá a entender que não é chegado em ternos, mas que faz questão de desembarcar no Brasil envergando um. Por que?, quer saber o jovem francês. “Porque dizem que os guerrilheiros são terroristas, marginais. Quero mostrar que não somos”. Dá-se um corte temporal e vemos a ‘”geração osasquense de 1968″ já grisalha, passados quase 50 anos. Ibrahin tinha 21 anos na época das greves e da prisão. E conta história impressionante sobre desejo de suicidar-se pulando de um viaduto paulistano, a que seria conduzido pelas forças repressivas, empenhadas em prender “novos subversivos” (ele fornecera um “ponto” falso). Outro bom momento do documentário vem de depoimento de Spinosa, sobre o jornal NP (Notícias Populares), o mais lido pelos sindicalistas: o NP vivia de crimes sensacionalistas, mas era o veículo que fazia “a melhor cobertura das lutas sindicais de nossas bases”. E a cobertura de crimes, a maioria protagonizada por personagens ficcionalizados (a loura-fantasma, o bebê-diabo, o bode estuprador) só fazia aumentar o estigma sobre a cidade. As apelativas capas-manchetes do jornal são mostradas para ilustrar o que diz o militante. Os outros depoimentos são apenas corretos.
filme é fruto de anseio de vários artistas, intelectuais e operários. Aborda a ‘geração 1968’ na cidade. Notadamente a greve de Osasco de julho daquele ano. É também uma singela homenagem a José Ibrahin (1947-2013 ) e seus amigos/companheiros“.
E é isto que ele faz, apoiado em dezena de depoimentos de militantes políticos, protagonistas da Greve de Osasco (1968). Inclusive e, principalmente, o de José Ibrahin, morto há dois anos. Como o filme foi realizado ao longo de muitos anos, Rui e seu fotógrafo João Luiz de B. Neto foram gravando testemunhos. Os melhores são os de Antonio Roberto Spinosa e Roque Aparecido, pois temperados com humor. Ibrahin também têm muito o que dizer, embora o faça sem a pulsão de vida que deve ter marcado sua agitada juventude. Completam a longa narrativa (que por fixar-se praticamente só no recurso do depoimento, às vezes cansa) os testemunhos de duas mulheres — Risiomar Fasonaro e Helena Pignatari Werner, esta, professora e autora de livro sobre as greves operárias de Osasco) — José Groff, João Joaquim Silva, Inácio Pereira Gurgel… Raras imagens (dos corpos de Lamarca e Zequinha mortos, de fotos e manchetes de jornal) tentam (mas são insuficientes) quebrar a repetição de testemunhos dados em super-close. Quando o filme começa, nos animamos. Um jovem Ibrahin aparece em uma loja masculina, na França, falando francês fluente com o rapaz que o atende. Ele prova ternos, pois, anistiado, regressará ao Brasil (1979). O sindicalista dá a entender que não é chegado em ternos, mas que faz questão de desembarcar no Brasil envergando um. Por que?, quer saber o jovem francês. “Porque dizem que os guerrilheiros são terroristas, marginais. Quero mostrar que não somos”. Dá-se um corte temporal e vemos a ‘”geração osasquense de 1968″ já grisalha, passados quase 50 anos. Ibrahin tinha 21 anos na época das greves e da prisão. E conta história impressionante sobre desejo de suicidar-se pulando de um viaduto paulistano, a que seria conduzido pelas forças repressivas, empenhadas em prender “novos subversivos” (ele fornecera um “ponto” falso). Outro bom momento do documentário vem de depoimento de Spinosa, sobre o jornal NP (Notícias Populares), o mais lido pelos sindicalistas: o NP vivia de crimes sensacionalistas, mas era o veículo que fazia “a melhor cobertura das lutas sindicais de nossas bases”. E a cobertura de crimes, a maioria protagonizada por personagens ficcionalizados (a loura-fantasma, o bebê-diabo, o bode estuprador) só fazia aumentar o estigma sobre a cidade. As apelativas capas-manchetes do jornal são mostradas para ilustrar o que diz o militante. Os outros depoimentos são apenas corretos.
Publicado no prestigioso e respeitadíssimo
blog da querida jornalista Maria do Rosário Caetano em (no
dia 03/06/16):
https://almanakito.wordpress.com/2016/06/03/almanakito-03-05-16-nise-mexico-greve-de-osasco-ibrahin-vladimir-safatle-coluna-na-folha-tv-publica-venicio-lima-revista-de-cinema-129/
Minha
resposta p/ ela:
Querida Rô,
Te conto primeiro que como levei muito mais de uma década
para produzir o PPO, “foi natural” que seguisse as lições de Glauber,
Zganzerla, ou de vivíssimos como vc., Zanin, e principalmente Silvio Tendler
no período anotar em vários cadernos (digitais ou não) muitas coisas que
surgiram (claro, principalmente pesquisas). Logo, será igualmente não só
prazeroso, mas muito relevante se conseguir daqui p/ frente torná-los públicos.
Que, como as mais de dez horas de captação das entrevistas que foram excluídas
no corte final, podem perfeitamente formar Extras , ok?
Quanto às correções: 1- O Centro Cineclubista de São Paulo e
Cineclube Kinopheria, em Itaquera, São Paulo, foram fundados
em 2003. 2- O Cineclube Alto do Farol foi fundado em 2005 por nós aqui em
Osasco. 3- O nome correto de alguns entrevistados: Antonio Roberto
Espinosa, José Ibrahim (segundo a doutora Mazé Torquato Chotil no seu livro
(que estou lendo) que acabou de lançar em Osasco, “Trabalhadores Exilados – a
saga dos brasileiros forçados a partir (1964 – 1985)” Ed. Prismas. E que levou
uma cópia do filme p/ Paris), Risomar Fasanaro e Roque Aparecido da Silva. 4-
Ouso lhe dizer que boa parte dos depoimentos podem ser “apenas corretos”, mas
não só em relação a Osasco mas “ao mundo inteiro” , a Greve de Osasco e a
Geração 68 daqui (de SP enfim) ainda merecem muito destaque! Porque você bem
sabe que os Anos de Chumbo carecem de muito estudo, a exemplo de outros países.
Bjs
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O professor de história Cupertino Santos que afirmou no
Facebook (após o pré lançamento nacional do PPO no Teatro Municipal de Osasco,
em 11/03/16, p/ mais de 150 pessoas. Inclusive com a presença do Lapas, M.
Martins, Mazé, C. Marx, e alguns entrevistados do filme como, Risomar Fasanaro,
J. Joaquim, Espinosa e Roque: “Sai
profundamente impressionado com seu filme ontem, Rui. Se me permite, acho que
sua louvável "obsessão" pelo tema de 68 em Osasco, coloca-o, através
de seu meticuloso trabalho, no patamar do drama universal da luta pela justiça
e pela dignidade humana e, assim, conseguir comover públicos em qualquer parte
do mundo. Sinceramente admirado, abraços.” em 12 de março de 2016.
CONTATOS: Rui de Souza 11 9 8917-4783 rsouza08@yahoo.com.br netodohumbertomauro.blogspot.com
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